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A recreação noturna, por Rui Coelho de Moura - Superintendente, Comand. C. Dist. de Coimbra PSP


Dando seguimento à publicação de textos de reflexão sobre temas das áreas-alvo do projeto Noite Saudável das Cidades do Centro de Portugal, apresentamos aqui uma nova contribuição.


A recreação noturna

Rui Coelho de Moura, Superintendente Comandante do Comando Distrital de Coimbra da PSP


Os escritos antigos comprovam que diversos povos se divertiam, por vezes durante dias seguidos, em especial os Romanos, que por aqui se fixaram e fundaram grandes cidades, como a de Aeminium. A diversão faz parte do registo social ancestral, quer seja por contraponto ao trabalho, quer seja por alternativa ao ócio. Chegou a ser também segregador, mas isso “é para outras conversas”.

Ao longo da evolução social e de acordo com os vários modelos conhecidos, a recreação foi sempre acompanhando o crescimento e desenvolvimento da espécie humana. Não raras vezes assistimos ou participamos em atividades de recreação até como forma de desenvolvimento das crianças. Podemos assumir que a recreação tem utilidade social e educacional, ou mesmo formativa.

Retendo-me na componente social da recreação, viajo à minha adolescência e, comparando cronologicamente, identifico maioritariamente pontos comuns: os jantares de amigos, seguidos de trilhos mais ou menos sinuosos de visitas a locais de diversão noturna, a preocupação generalizada com os excessos, os episódios esporádicos que geram censura por quem a eles assiste.

Mas, 30 anos passados, há diferenças que são identificáveis: mais locais de diversão, mais pessoas, mais fatores de risco – todos estes resumíveis a comportamentos. Comportamentos dos que trabalham na recreação noturna ou dependem financeiramente da recreação noturna dos outros. Comportamentos dos que se divertem. E comportamentos dos demais. Dos que estão por lá quando necessário, ou quando são chamados; e dos que fazem as normas para que todos possam ver as suas expetativas concretizadas.

Os dados disponíveis não são totalmente oficiais. Ainda assim, as perceções alavancam iniciativas relevantes, como este projeto e os seus subprojectos.

O caminho está definido e é conhecido. É preciso intervir para que a recreação noturna mantenha padrões socialmente aceitáveis e não descambe sequer em casos isolados de violência e outros factos censuráveis. É preciso recriar o conceito de respeito pelo próximo e balizar comportamentos. Aconselhando, informando, formando, debatendo, propondo e, não menos importante, cumprindo. Cumprir com as normas legais e as normas sociais de boa vivência é, na filosofia do Direito, o caminho de ordenar a Polis. Para que a Polis seja “saudável”. Para que as pessoas sejam mais felizes.

Mas temos que ainda ir mais longe e envolver todos os parceiros. Criar medidas legais alinhadas com a expetativa de todos, mas que não aumentem o risco estrutural e a propensão para os comportamentos de risco. Criar verdadeiras políticas públicas que correspondam aos deveres de um Estado de Direito Democrático e às expetativas de todos os atores da recreação noturna.

A soma das partes será mais relevante que cada parte por si. Temos que sustentar a noite saudável, para que o dia seja soalheiro. Todas as noites. Todos os dias.


Superintendente Rui Coelho de Moura, Comandante Distrital da PSP de Coimbra, com a colaboração de Intendente Nuno Dinis, 2.º Comandante Distrital da PSP de Coimbra.

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