«Todos juntos e a fazer parte duma solução»
«Estamos muito empenhados para que se faça um trabalho multidisciplinar. Todos juntos e a fazer parte duma solução que queremos para Leiria!», declarou Ana Esperança, vereadora da Câmara Municipal de Leiria (CML), na tarde de 12 de setembro de 2018, na segunda sessão de apresentação do projeto «Noite Saudável das Cidades do Centro de Portugal» (NSCCP), no decurso da rota informativa e de sensibilização local que envolve 21 municípios.
Ao abrir a sessão e dar as boas-vindas à equipa coordenadora do projeto NSCCP e aos representantes das instituições locais (relacionadas com a noite e com a recreação noturna) convidadas a participar na iniciativa, a vereadora Ana Esperança – a quem foram atribuídos os pelouros da Saúde e do Ambiente, entre outras funções – afirmou ter lançado «o desafio a um conjunto de entidades parceiras» da CML e que falou, «pessoalmente, com todos». «E todos me disseram, imediatamente, que sim!», regozijou-se a autarca leiriense, justificando as ausências das associações de estudantes, considerando «a abertura do ano letivo» e o facto de «estarem cheias de atividades» inerentes à receção dos caloiros do ensino superior.
Antes de passar a palavra ao psiquiatra João Redondo – o qual traçou uma breve resenha histórica e de enquadramento do projeto NSCCP (que sob o ponto de vista administrativo é da responsabilidade do Instituto Europeu para o Estudo dos Fatores de Risco em Crianças e Adolescentes – IREFREA Portugal, com a parceria científica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra – CHUC), a vereadora Ana Esperança manifestou estar positivamente expectante em relação «à sessão de trabalho, de conversa e de esclarecimento», de forma a conseguir-se «uma coisa bonita para Leiria». «Parece-me ser um projeto de extraordinário interesse. É importante que consigamos adequar isso à nossa cidade!», observou.
Campanhas de prevenção conjuntas
Durante o período aberto às intervenções dos representantes das entidades interessadas no NSCCP, o médico João Redondo falou da sua ligação a dois projetos que têm a ver com violência e com a sinistralidade rodoviária e apelou à «participação dos setores da Educação, da Saúde e das forças de segurança», convicto de que «pensar em campanhas em conjunto é muito diferente» e mais vantajoso do que insistir nas campanhas isoladas setorialmente. Outro aspeto a ponderar prende-se com o sono. «É óbvio que a má qualidade do sono vai interferir em tudo na vida das pessoas, juntamente com os consumos excessivos!», sublinhou este elemento da equipa de coordenação do NSCCP, reconhecendo que «a violência é transversal a todos os municípios».
Ao dar conta deste projeto multiparticipado e alargado a toda a região Centro, João Redondo defendeu o modelo ecológico, visando a saúde pública e a existência de cidades resilientes. E deu também a entender que a ideia não é a de impor, mas de a de agregar e de ajustar. «Os nossos e os vossos projetos são bons juntos! O mesmo fato não serve para todos, temos de ajustar às necessidades. Embora tenhamos objetivos comuns, as populações são diferentes. É muito importante que se mobilizem connosco!», clarificou.
A administradora hospitalar Diana Vilela Breda (outro elemento coordenador do NSCCP, em representação do CHUC) identificou alguns problemas ligados ao consumo de drogas e álcool, à violência, às relações sexuais desprotegidas, ao transporte de e para os locais de recreação – dizendo que «os acidentes de viação são a principal causa de morte entre adolescentes e jovens adultos» –, assim como aos problemas de saúde mental, às questões da desigualdade de género e ao incómodo social (por causa do ruído, por se beber nas ruas, pelo lixo e pelo vandalismo, etc.).
Capacitar profissionais no terreno
Ao intervir na sessão de apresentação na cidade do Lis, o psicólogo Fernando Mendes elucidou, de imediato, que «a ideia é a de capacitar os profissionais para que possam trabalhar» no terreno, reforçando os fatores de proteção individual e coletiva e diminuindo os fatores de risco.
Neste contexto, o coordenador do IREFREA Portugal e impulsionador do projeto NSCCP valoriza bastante a capacidade de resposta da comunidade e também defende que se potencie a criação de redes locais e regionais, bem como a promoção das boas práticas, «para melhor prevenir».
Futuramente, sob a coordenação do projeto NSCCP (e tendo como consultores João Pedro Pimentel e o epidemiologista Vítor Rodrigues) será delineado e constituído o Observatório «Noite Saudável das Cidades», estrutura que visa «promover um conhecimento mais preciso da realidade da região Centro» e a «definição, implementação e avaliação de estratégias de prevenção assentes na evidência», considerando a população-alvo (jovens e pessoas que frequentam os espaços de diversão noturna).
Além da edil leiriense Ana Esperança – que se disponibilizou para ajudar a consolidar «uma ponte entre a Câmara e a equipa coordenadora» do NSCCP –, assistiram também à sessão de apresentação local deste projeto os vereadores Carlos Palheira (com os pelouros do Desporto e da Juventude, entre outras funções municipais) e Anabela Fernandes Graça (com as funções da Educação, Ensino Superior e Ciência, Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira e Ligação às Freguesias, a par de outras atribuições), bem como vários autarcas das freguesias e uniões de freguesias.
Refira-se que esta iniciativa do NSCCP é apoiada pelo programa «Centro 2020», sendo coordenada pelo Centro de Prevenção e Tratamento do Trauma Psicogénico (CPTTP) do Centro de Responsabilidade Integrado de Psiquiatria do CHUC e pelo IREFREA Portugal.
«Temos de intervir mais nos bares»
Em declarações à margem da sessão de apresentação, a vereadora Ana Esperança notou que «a Câmara Municipal de Leiria já tem trabalho feito e uma relação especial» com os seus parceiros locais. «Procuramos envolvê-los sempre nestes projetos», referiu, valorizando «o papel facilitador das autarquias», a exemplo de «Leiria Tem Saúde», que reúne vários parceiros (Associação Carlotazinha, Appeas - Associação Portuguesa para o Envelhecimento Ativo e Saudável, Associação Portuguesa de AVC, Centro Hospitalar de S. Francisco, Hospital D. Manuel de Aguiar, Instituto Politécnico de Leiria e Liga Portuguesa Contra o Cancro).
«Temos tidos projetos fantásticos!», relevou Ana Esperança, como o que possibilita rastreios mensais na área do AVC (acidente vascular cerebral), contribuindo para prevenir a sua ocorrência, sobretudo durante a noite, junto de pessoas que estão «sozinhas e desapoiadas». «É assim que temos de intervir! Prevenindo e promovendo os estilos de vida saudáveis também nas escolas – com o nosso público-alvo no ensino secundário –, no sentido de perceber que tipo de alimentação fazem…», continuou a vereadora leiriense, admitindo que «os consumos abusivos estão a aumentar».
«A nossa noite está muito confinada ao centro da cidade e à zona histórica e temos muitos casos de consumos perfeitamente inaceitáveis. É aí que temos de apostar muito! Já há muita coisa feita, mas há muito por fazer. Temos de intervir mais nos bares. Daí que o nosso foco sejam os proprietários dos estabelecimentos [de recreação] noturnos, temos de os envolver, a fim de que eles sejam parte da solução», particularizou a autarca.
Com a intenção de «desmistificar algumas coisas», Ana Esperança manifestou ainda: «É claro que não queremos ter uma noite sem álcool. Isso é um disparate! Devemos é disponibilizar, na noite, um conjunto de recursos que permita que os jovens se possam divertir com segurança.»
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