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6.9.2018 | Apresentação do projeto NSCCP em Idanha-a-Nova


Ajudar a «fazer o fato que cada um precisa na sua comunidade»


«Este é um excelente projeto que envolve as estruturas da Saúde, as autarquias, as forças de segurança, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro [CCDRC], as organizações não governamentais [ONG] e as empresas, para seguirem condições de prevenção e redução de riscos relativamente aos abusos de qualquer tipo de dependências», afirmou Idalina Gonçalves Costa, na qualidade de vice-presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, na tarde de 6 de setembro de 2018, na primeira sessão de apresentação do projeto «Noite Saudável das Cidades do Centro de Portugal» (NSCCP), no âmbito de um périplo informativo e de sensibilização local que envolve 21 municípios.


Tratando-se de um projeto virado para as comunidades e que conta com a participação das escolas, dos hospitais e unidades de saúde, das associações de estudantes e outras organizações locais e regionais, a par das famílias e dos jovens que querem fazer valer hábitos saudáveis nos contextos recreativos da noite das cidades e vilas da região Centro, a vice-presidente da edilidade de Idanha-a-Nova sublinhou a importância do NSCCP enquanto «projeto de prevenção e de cidadania que se dirige a jovens, mas que também contribui para a tranquilidade das famílias e promove a responsabilidade dos industriais da noite».

Assim, Idalina Costa e também a vereadora Elza Gonçalves acolheram a equipa coordenadora do NSCCP que se deslocou a este município raiano para falar do projeto, dos seus objetivos e das populações-alvo; mas, sobretudo, para escutar as forças vivas locais sobre o que já estão a fazer e a «pensar em intervenção».

O psiquiatra João Redondo traçou uma breve resenha histórica e de enquadramento do projeto NSCCP (que sob o ponto de vista administrativo é da responsabilidade do Instituto Europeu para o Estudo dos Fatores de Risco em Crianças e Adolescentes – IREFREA Portugal, com a parceria científica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra – CHUC), tendo subjacente «a ideia de que se tem de fazer alguma coisa» para alterar a realidade atual espelhada nos dados e indicadores que vão sendo recolhidos.


«Uma cultura de rede» «Sob a evidência das coisas, é preciso falarmos sobre elas!», manifestou João Redondo (um dos impulsionadores do projeto NSCCP e coordenador da Unidade de Violência Familiar do Centro de Prevenção e Tratamento do Trauma Psicogénico do CHUC). «Só este dado já é preocupante: em 64,5 por cento dos casos [aludindo ao ano de 2015], as relações sexuais tinham ocorrido sob o efeito do álcool», exemplificou, além de assinalar que «43% referiu notar um maior consumo de drogas ilegais», enquanto 60% sentiu «mais violência e agressividade na noite».

Para o psiquiatra, «as escolas são um dos espaços fundamentais para se intervir», defendendo a existência de «uma cultura de rede» entre os diversos «stakeholders» (ou público estratégico: pessoas e grupos interessados) neste contexto. «A violência só surge entre desiguais!», considerou o mesmo responsável do projeto NSCCP, no decurso da sessão realizada na Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, bastante participada pelos representantes autárquicos e das organizações locais.

«Todos juntos, partilhamos muita coisa… É bom fazermos algo que nos obrigue a olhar mais uns para os outros!», salientou João Redondo, tendo em conta a população-alvo do projeto (os jovens, as famílias e a comunidade, incluindo os serviços e os profissionais – potenciais interfaces no quotidiano dos jovens) e com a noção, bem clara, de que «a redução de riscos é um investimento, não um custo».

Como frisou o psiquiatra do CHUC e elemento coordenador do NSCCP, «o segredo disto é que as pessoas pensem por elas e façam esse esforço para que as coisas mudem», no sentido de evitar os fatores de risco e de reforçar os fatores protetores. «Basicamente, o nosso grande objetivo é criar cidades resilientes e confiantes!», declarou João Redondo, sustentando que «os municípios com estas características atraem mais investimento», dando azo à melhoria da qualidade de vida, com redução de fatalidades e danos, e a uma participação mais ativa dos cidadãos. «Ou seja, o nosso grande objetivo é associar à ideia de trabalho em rede a ideia de partilha e de combate à “empurroterapia”», acentuou.


Problemas ligados à noite Por sua vez, a administradora hospitalar Diana Vilela Breda (outro elemento coordenador do NSCCP, em representação do CHUC) confessou que a sua «principal motivação em aderir a este projeto resulta do facto de ser mãe de filhos adolescentes, os quais começam a frequentar os espaços da noite», na sua opinião, «muitos diferentes de quando era jovem».

Na sua intervenção, Diana Breda identificou alguns problemas ligados ao consumo de drogas e álcool, à violência, às relações sexuais desprotegidas, ao transporte de e para os locais de recreação – dizendo que «os acidentes de viação são a principal causa de morte entre adolescentes e jovens adultos» –, assim como aos problemas de saúde mental, às questões da desigualdade de género e ao incómodo social (por causa do ruído, por se beber nas ruas, pelo lixo e pelo vandalismo, etc.).

«A questão é sempre a de que a noite tem uma economia. O impulso que é gerado pela noite também tem um “apport” financeiro. Só que, aqui, há custos!», alegou Diana Breda, adiantando haver «estudos que tentam quantificar – além de outras consequências, a longo prazo, a nível da saúde – quais são os custos de intervenções duradouras». «A noite gera, obviamente, proventos… Mas também gera custos!», lembrou a administradora hospitalar, apelando: «Temos de saber como estabelecer, aqui, um equilíbrio!»

Por conseguinte, Diana Breda falou da necessidade de avaliação do próprio projeto, através de consultores e avaliadores especialistas, e também de um conselho de jovens. «O que nos entusiasma muito!... Perguntar aos jovens sobre a intervenção que estamos a desenvolver», expôs esta profissional do CHUC e co-coordenadora do NSCCP, atenta aos indicadores de impacto de cada atividade ou sub-projeto.

Diana Breda aproveitou ainda a ocasião para lançar o repto: «Nós não temos um fato feito que vamos vestir… Vocês é que sabem qual é a vossa realidade. Por isso, queremos muito ouvir-vos!»


Capacitar para melhor intervir Ao tomar a palavra, o psicólogo Fernando Mendes esclareceu, de imediato, que «a ideia é a de capacitar os profissionais para que possam trabalhar» no terreno, reforçando os fatores de proteção individual e coletiva e diminuindo os fatores de risco.

Nesta conjetura, o coordenador do IREFREA Portugal e impulsionador do projeto NSCCP valoriza bastante a capacidade de resposta da comunidade e também defende que se potencie a criação de redes locais e regionais, bem como a promoção das boas práticas, «para melhor prevenir».

Todavia, Fernando Mendes pensa que, para o sucesso do projeto, «é necessário articular», considerando muito importante a aposta no denominado «empoderamento comunitário» e na prevenção (universal, seletiva e indicada), junto dos jovens e das suas famílias, assim como das crianças e dos adultos, mas especialmente atenta aos rapazes e raparigas que frequentam espaços de recreação noturna, sem esquecer os profissionais de saúde e de ação social, as forças de segurança e os próprios empresários e trabalhadores da noite.

Retomando a metáfora utilizada por Diana Breda, o psicólogo Fernando Mendes esclareceu que «o projeto NSCCP não tem um fato, mas materiais para fazer o fato que cada um precisa na sua comunidade». A propósito do «empoderamento comunitário», o coordenador do IREFREA propõe que se capacite, igualmente, os municípios, para aumentar a segurança e a qualidade de vida nos contextos recreativos noturnos das cidades da região Centro.

Na sua alocução, este responsável do NSCCP deu a conhecer cada um dos sub-projetos atualmente existentes, incluindo a população-alvo e os respetivos objetivos, considerando, seguidamente, os tipos de atividade ou de estratégias de intervenção (universais, seletivas e indicadas – isto é, com abordagens voltadas para aqueles que já demonstraram problemas, na intenção de diminuir os comportamentos de risco e as suas consequências, a exemplo da gravidez na adolescência ou das infeções sexualmente transmissíveis).

Fernando Mendes referiu-se ainda à necessidade de formar um grupo de jovens voluntários para trabalhar a vários níveis da comunidade, a fim de prevenir a violência interpessoal, a sinistralidade rodoviária e de reforçar a segurança individual e coletiva.

A verdadeira garantia de sustentabilidade do projeto «Noite Saudável das Cidades do Centro de Portugal» assenta no estabelecimento de redes com as mais diversas participações locais e regionais. Daí as ações de mobilização, de envolvimento e de reforço de cooperação com as partes interessadas. A deslocação da equipa coordenadora do projeto NSCCP a Idanha-a-Nova visou a instituição de formas claras de colaboração conjunta neste domínio.

Refira-se que a iniciativa é apoiada pelo programa «Centro 2020», sendo coordenada pelo Centro de Prevenção e Tratamento do Trauma Psicogénico (CPTTP) do Centro de Responsabilidade Integrado de Psiquiatria do CHUC e pelo IREFREA Portugal.

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